Brasil: A saída do labirinto da crise
A superação da crise está ou num governo radicalmente renovado de Dilma ou em novas eleições, que permitam ao povo brasileiro voltar a decidir sobre o seu destino, hoje definido de forma absolutamente ilegítima por um Congresso que quer impor ao país uma solução derrotada em todas as eleições, desde 2002
A prolongada e profunda crise brasileira vem percorrendo sinuosos caminhos de um labirinto que se repete reiteradamente. O segundo mandato da Dilma se esgotou, depois de erros graves na coordenação política, que facilitaram o assalto ao Congresso por uma gangue aventureira e golpista, ao mesmo tempo em que o ajuste fiscal provocou a perda de apoio, de que se vale a direita para golpear o governo de todos os lados.
A justa e difícil luta pela continuidade do mandato da presidente Dilma tem a ver com a manutenção da democracia no Brasil mas, se vencedora, teria que desembocar em um outro governo, com retomada do modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. É o modelo que conseguiu unir o país, em torno do desenvolvimento e da justiça social.
Por outro lado, o que Temer tem a prometer é apenas uma fratura social ainda mais profunda, com mais recessão econômica, tal como ocorreu nos anos 1990, com divisão ainda mais profunda do país e fracasso inevitável. Não apenas não é solução para a crise como, ao contrário, representa seu aprofundamento e jogar o país num perigoso abismo econômico, social e político.
De um labirinto se sai por cima. Os meandros e as escaramuças atuais, as idas e vindas institucionais não conduzem a nada de bom para o país. Temer tenta formar governo em meio a evidentes demonstrações da sua incapacidade política para liderar qualquer tipo de projeto, enquanto a mobilização popular e o repúdio internacional cercam seu projeto e fazem com que seja repudiado já antes mesmo de existir.
O Congresso nacional se enxovalhou uma vez, no dia 17 de abril, e ameaça repetir a dose no Senado, consolidando a imagem de pior parlamento que o Brasil já teve e condenando seus personagens – ainda mais numa próxima eleição sem os financiamentos privados que permitiram sua composição sem nenhuma correspondência com o país real – a serem expurgados definitivamente da vida brasileira.
A superação da crise está ou num governo radicalmente renovado de Dilma ou em novas eleições, que permitam ao povo brasileiro voltar a decidir sobre o seu destino, hoje definido de forma absolutamente ilegítima por um Congresso que quer impor ao país uma solução derrotada em todas as eleições, desde 2002.
Um novo governo Dilma, que aprenda da crise e do seu próprio primeiro mandato, e coloque em prática um programa que ataque os problemas fundamentais do país. Entre estes, o problema central de buscar os recursos que o país precisa não do lado frágil dos trabalhadores, mas do lado do capital especulativo, cuja intermediação financeira canaliza 15% do PIB – segundo cálculos de Ladislau Dowbor. Do lado da sonegação, pelo imposto às grandes fortunas e às grandes heranças, pela recuperação dos recursos milionários depositados nos paraísos fiscais.
Um governo que tem que, em base a esses recursos, direcionar de novo o país na vida do desenvolvimento econômico, fortalecer ainda mais as políticas sociais redistributivas e a expansão do emprego. A própria campanha pela preservação do seu mandato tem mostrado à presidente quais são os setores sociais com que pode contar para impulsionar esse caminho.
Quanto ao programa com que Temer ameaça o país, representaria exatamente a direção oposta: maior concentração de renda, aprofundamento da recessão, retorno do endividamento externo, enfraquecimento do papel do Estado, retomada dos processos de desigualdade social, com maior nível de pobreza e de miséria. É o programa do 1% mais rico – a mesma porcentagem de Temer nas pesquisas de apoio para a presidência da República.
A única contribuição que Temer tem a dar ao país é renunciar a esse projeto e à tentativa golpista de chegar, sem votos, à presidência. É uma aventura em que se presta a uma revanche dos mais ricos contra os trabalhadores e contra os mais pobres, que faria dele o político mais odiado pelos brasileiros.
Lula tem um papel importante nessa saída do labirinto da crise, seja coordenando o novo governo Dilma, seja protagonizando a candidatura em novas eleições. Em qualquer dos casos, ele deve propor ao país o modelo de retomada do desenvolvimento econômico com distribuição de renda, adaptado às condições internas e externas atuais, que permita recompor um bloco que congregue a grande maioria da população e permita ao país superar a crise, saindo por cima do labirinto.
[Artigo tirado do sitio web brasileiro ‘Brasil 247’, do 10 de maio de 2016]