TTIP: A “OTAN económica”
A negociação do TTIP insere-a na tentativa geoestratégica estadounidense de resistir ao declínio do seu domínio mundial. O objetivo dos EUA, a par da atrelagem dos países da Europa com o sem União Europeia aos seus interesses e a manutenção do domínio mundial, mantendo unipolaridade dos EUA na direção mundial.
A estratégia dos EUA inclui o TTIP, o golpe na Ucrânia, as guerras contra a Líbia e a Síria, a vaga de emigrantes e o desenvolvimento militar da OTAN à porta da Rússia.
A cidadania, os parlamentos, os governos, Estados inteiros são despojados de toda a autoridade sobre as suas opções económicas, colocadas nas mãos de organismos controlados por transnacionais e grupos financeiros que violam os direitos dos trabalhadores, as exigências da proteção do meio ambiente e as exigências da segurança em matéria alimentar, destruindo ao mesmo tempo os serviços públicos e os bens da comunidade. É por isso que há que rejeitar a Associação Transatlântica para o Comércio e o Investimento (TTIP na sua sigla em inglês [1]), que os Estados Unidos e a União Europeia estão a negociar no maior segredo.
Às razões anteriormente referidas juntam-se outras, das quais, praticamente nunca ninguém fala: as razões de caráter geopolítico e geoestratégico, que revelam a existência de um projeto muito mais amplo e ameaçador. O próprio embaixador dos EUA junto da União Europeia insiste em que «há razões essenciais geoestratégicas para concluir este acordo».
Essas razões têm muito a ver com o que indica o Conselho Nacional de Inteligência dos EUA quando prevê que «como consequência do declínio do Ocidente e da ascensão da Ásia que, daqui até 2030 os Estados em vias de desenvolvimento terão ultrapassado os Estados desenvolvidos». É por isso que Hillary Clinton define a associação entre os EUA e a União Europeia como «um objetivo estratégico importante da nossa aliança transatlântica», projetando uma «OTAN económica» que integraria a OTAN política e militar.
O projeto de Washington é claro: levar a OTAN a uma fase superior, criando um bloco político, económico e militar EUA/UE, sempre sob as ordens dos EUA que – juntamente com Israel, as monarquias do Golfo e outros países – se opõem à área euroasiática em ascensão – ascensão baseada na cooperação entre a Rússia e a China – tal como se opõem aos países do grupo BRICs e qualquer outro país que se afaste do domínio Ocidental.
O primeiro passo foi a fratura entre a União Europeia e a Rússia. Em Julho de 2013, abriram-se em Washington as negociações sobre o TTIP, cujo avanço encontra muitas dificuldades devido à existência de interesses contrários entre as maiores potências europeias, às quais a Rússia oferece vantajosos acordos comerciais. Seis meses mais tarde, em janeiro-fevereiro de 2014, o putsch da Praça Maidan, organizado na Ucrânia pelos EUA e a OTAN inicia a reação em cadeia (ataques contra a população russa da Ucrânia, separação da Crimeia e regresso dessa península à Rússia, início do processo de sanções e contrassanções) que reinstala um clima de guerra fria na Europa.
Ao mesmo tempo os países membros da União Europeia vêem-se submetidos à pressão dos fluxos migratórios provocados pelas guerras desencadeadas pelos EUA e a OTAN (contra a Líbia e a Síria), guerras em que participaram países europeus, e pelos ataques terroristas do chamado Estado Islâmico (surgido na sequência dessas mesmas guerras).
Nesta Europa dividida por «muros de contenção» dos fluxos migratórios, onde atualmente se propaga a psicose do estado de sítio, os EUA estão a começar a maior operação militar desde o fim da Guerra Fria, com a deslocação para as fronteiras com a Rússia de caças-bombardeiros e navios de guerra, capazes de transportar armas nucleares.
Sob o comando dos EUA, a OTAN – que conta entre os seus membros 22 dos 28 países da União Europeia – intensifica a realização de exercícios militares (mais de 300 em 2015), principalmente na frente oriental. Tudo isto favorece o projeto de Washington tendente à criação de um bloco político, económico e militar EUA-UE. Esse projeto goza do apoio de Itália, assim como dos países da Europa oriental, mais próximos dos EUA que da União Europeia.
As maiores potências europeias, principalmente a Alemanha e a França, ainda estão a negociar. Entretanto vão-se integrando cada vez mais na OTAN. O parlamento francês aprovou a instalação de centros de comando e de bases da OTAN em solo francês, coisa que a França tinha rejeitado em 1966. E a Alemanha, segundo afirma o Der Spiegel, está disposta a enviar tropas para a Lituânia para reforçar a deslocação da OTAN nos países bálticos vizinhos da Rússia.
A Alemanha - informa também o Der Spiegel – também se prepara para instalar uma base na Turquia, onde já operam vários aviões de guerra Tornado alemães, oficialmente contra o chamado Estado Islâmico, fortalecendo assim a deslocação da OTAN pera esta zona de primeira importância estratégica.
A crescente integração da França e da Alemanha na OTAN, sob o comando dos estadounidense, indica que, perante interesses divergentes particularmente sobre as custosas sanções económicas contra a Rússia), estão a prevalecer as «razões geoestratégicas» do TTIP.
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Nota:
[1] Este projeto também é designado muitas vezes por TAFTA sigla de Transatlantic Free Trade Area, isto é «Área de Livre Comércio Transatlântico».
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[Artigo tirado do sitio web ‘ODiario.info’, do 14 de maio de 2016]