O que está em jogo nas eleições do Equador?

Juan Manuel Karg - 10 Xan 2017

Um triunfo do correísmo no primeiro turno poderia significar uma revitalização do espaço nacional-popular, progressista e da esquerda continental depois de dois anos – 2015 e 2016 – em que a direita retomou a iniciativa por todas as vias possíveis – inclusive o golpe institucional no Brasil

O Equador inaugurará o calendário eleitoral de 2017 na América Latina e Caribe: em 19 de fevereiro próximo haverá eleições presidenciais, decisivas para a região em seu conjunto pelo que ali está em jogo.

 O correísmo, por meio da dupla Lenin Moreno -Jorge Glas, joga a continuidade da Revolução Cidadã, que governa desde janeiro de 2007 em uma verdadeira “mudança de época” para o país, tal como gosta de chamar seu presidente, Rafael Correa, com base nas transformações operadas na vida de milhões de pessoas.

 Em 3 de janeiro último, começou a campanha eleitoral. “O futuro não se detém” é a principal palavra de ordem da campanha de Moreno, salientando as conquistas da “década ganha”, formulação tomada de empréstimo do que foi o governo de Cristina Fernández de Kirchner na Argentina. A oposição conservadora a Correa, entretanto, se embandeirou com a ideia de “mudança”, inspirando-se na campanha de Macri, que forçou o segundo turno e ganhou a eleição sob a consigna de “Mudemos” – e fugazes promessas, não cumpridas depois de um ano de governo. Assim, o banqueiro Lasso utiliza o pouco criativo slogan “vamos pela mudança”, enquanto que Viteri fala de uma “mudança positiva”. Como se verifica, uma campanha que se “argentinizou” logo no começo.

 O objetivo do correísmo é concreto: Moreno deverá obter mais de 40 pontos e uma distância de 10 sobre seu adversário mais próximo para evitar o segundo turno. É um cenário possível, considerando a imagem positiva com que conta o primeiro vice-presidente de Correa e a própria gestão do presidente, ao que se soma a crescente dispersão no campo oposicionista. Por ora, e para além de slogans, a oposição se baseia somente em denúncias de casos de corrupção – PetroEquador e Odebrecht – que o próprio governo já havia detectado. O caso da construtora de origem brasileira que sacode a política regional é o mais emblemático para ilustrar isso: o governo da Aliança País (AP) a expulsou em 2008, sendo o único antecedente concreto na América Latina. Sobre o caso PetroEquador, Correa foi contundente: “O país pode ter a segurança de que jamais tolerarão essas corrupções. Aqui não haverá impunidade, nem perdão, nem esquecimento, não se pode jogar com os recursos do povo”.

 Tanto a AP como seus aliados nucleados na frente Unidos enfrentam um desafio complexo na atualidade regional: ordenar uma sucessão limpa e eficiente dentro do espaço dos governos nacional-populares, progressistas e de esquerda da região, na imposibilidade de ir às urnas com seu principal dirigente e quadro político, Rafael Correa. As experiências do Brasil e da Argentina ilustram as dificuldades concretas de substituir as figuras melhor avaliadas destes espaços políticos, algo que a Bolívia quer evitar tentando reapresentar a candidatura de Evo Morales Ayma em 2019 – tal como definiu recentemente o congresso do Movimento ao Socialismo, ponderando para isso quatro possibilidades concretas.

 Um triunfo do correísmo no primeiro turno poderia significar uma revitalização do espaço nacional-popular, progressista e da esquerda continental depois de dois anos – 2015 e 2016 – em que a direita retomou a iniciativa por todas as vias possíveis – inclusive o golpe institucional no Brasil. Cristina Fernández de Kirchner, Lula e Lugo, três ex-presidentes que mantêm boa aceitação popular em seus países, esperam boas notícias da parte do correísmo: este espaço continental deve mostrar um rápido triunfo eleitoral como forma de reposicionamiento frente à restauração conservadora em curso, algo que mais ao norte já fizeram recentemente Danilo Medina (República Dominicana) e Daniel Ortega (Nicarágua).

 Macri e Temer, entretanto, aspiram a forçar um segundo turno, que possa projetar no horizonte um cenário de maior incerteza, com maior polarização. As declarações de Viteri quanto a uma hipotética saída do Equador da Alba – Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – no caso em que sua proposta saia vencedora – ilustram que estão em jogo projetos antagônicos sobre a integração regional, tal como sucede com a política interna.

 Conseguirá Correa agregar o plus carismático que permita à Aliança País um triunfo já no primeiro turno? Conseguirão Lasso ou Viteri forçar um segundo turno que hoje parece difícil, mas que se for consumado poderia modificar o cenário? São as duas perguntas que hoje se faz boa parte dos analistas em torno do desenlace possível desta contenda que será decisiva. Para saber o que vai ocorrer, é preciso considerar que haverá mais de um mês de campanha que será acompanhada com atenção pela região em seu conjunto.

 

[Artigo tirado do sitio web brasileiro Vermelho, do 9 de xaneiro de 2017]