As escolhas da UE
Apoiando envergonhadamente (ou vergonhosamente…) o genocídio israelita em Gaza, a UE coloca-se deliberadamente ao serviço dos EUA e do seu objetivo, cada vez mais longínquo, de subjugar o Médio Oriente e daí a Rússia e a China. A duplicidade dos EUA e do bloco UE/NATO não passa despercebida perante o mundo inteiro, como se viu na votação na AG da ONU
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A escolha que consideramos mais crítica para os povos da UE é não se distinguirem da NATO. O que existe é uma única entidade, um bloco com vertentes económica, (anti)social e militar, colocadas ao serviço do império. Isto define as políticas fundamentais do bloco UE/NATO. Políticas que ajudaram a semear o caos à sua volta: da Líbia, à Jugoslávia e Médio Oriente, alinhando com os EUA contra a Venezuela, Cuba, etc, que poderiam ser importantes parceiros comerciais.
O destino do bloco como mero vassalo do império ficou traçado ao impor com total inconsciência mais de dois milhares de sanções à Rússia (2778). Perante a destruição do Nord Stream 2, a UE tornou-se uma entidade risível para o resto do mundo ao aceitar e silenciar o facto, bloqueando até a investigação. As consequências da destruição do Nord Stream 2 não foram apenas enormes perdas económicas, mas a submissão a um ato de terrorismo com que os EUA levaram a UE para uma nova era de caos.
***cadro
Não se consegue descortinar uma escolha com discernimento feita na UE desde há muito. A incapacidade de definir políticas tendo em vista os reais interesses dos seus países e dos povos, leva a UE a apoiar o que tem sido qualificado como genocídio contra o povo palestino. Em consequência o tráfego de navios no Mar Vermelho caiu para metade. Segundo a Bloomberg, o conflito pode levar a interrupções no fornecimento e preços mais altos no mercado europeu, calculando-se que, por exemplo, as importações e exportações agrícolas da UE sejam afetadas no valor de 70 mil milhões de euros.
O hegemónico tem também insistido em que a UE/NATO reduza a dependência da China em matérias-primas e componentes críticos, encetando uma guerra comercial com a China. Mais uma vez não se medem as consequências económicas, financeiras, sociais, como aumento de custos, investimentos envolvidos, fornecedores alternativos, prazos de realização de tudo isto, consequências para o nível de vida das populações.
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Apoiando envergonhadamente (ou vergonhosamente…) o genocídio israelita em Gaza, a UE coloca-se deliberadamente ao serviço dos EUA e do seu objetivo, cada vez mais longínquo, de subjugar o Médio Oriente e daí a Rússia e a China. A duplicidade dos EUA e do bloco UE/NATO não passa despercebida perante o mundo inteiro, como se viu na votação na AG da ONU. Porém, derrotar o Hamas é de gente em delírio, o Hamas tem do seu lado todo o povo palestino, os Estados árabes e muçulmanos, a esmagadora maioria dos países representados na ONU. Apesar de todo o sofrimento causado, a estratégia de Israel é um fracasso, que se reflete em todos os que o apoiam. Israel tem pela frente toda a Resistência da Palestina, o Hezbollah, a Síria, as milícias iraquianas, o Ansarullah do Iémen, o Irão.
Estando os custos do apoio à Ucrânia em causa nos EUA, a UE/NATO foi encarregada de suportar a guerra que visava levar a Rússia à submissão (e miséria) como nos anos 1990. A Ucrânia na prática não existe. Se Israel é para o ocidente país 007, ordem para matar, a Ucrânia é o país 404, sitio não existente. O que existe daquela republica soviética altamente desenvolvida e povoada, é um país falido com menos de metade da população, infraestruturas destruídas ou precárias, a juventude a ser dizimada e vizinhos a ocidente cobiçando “por razões históricas” partes do que foi um país.
O défice orçamental da Ucrânia no final de 2023 atingiu 20,5% do PIB, isto apesar da estimativa de apoio recebido por Kiev ter atingido quase 250 mil milhões de dólares no final de 2023 em “ajuda” militar, financeira e humanitária, dos quais mais de 80 mil milhões da UE. Agora a UE decidiu entregar 50 mil milhões de euros, nos próximos quatro anos, para apoiar o Orçamento de Estado de Kiev. Escusado será dizer que são absolutamente insuficientes para tapar os buracos do OE, contudo não estão naquele montante incluídas as verbas necessárias para prosseguir uma guerra perdida. Isto compete à vertente NATO… no meio da estagnação económica e contestação dos mais diversos sectores sociais, para os quais por razões de “constrangimentos orçamentais” não há disponibilidades. Enfim, são escolhas e como diz o velho ditado ou queres canhões ou queres manteiga.
Entretanto, as transnacionais dos EUA apossam-se das terras e do que mais houver para deitar a mão, tanto lhes faz que depois seja polaco, romeno ou húngaro: pertence-lhes. Quanto à guerra que a UE/NATO quer manter “a todo o custo”, qualquer pessoa (“comentadores” não) que minimamente saiba pensar pode interrogar-se sobre o que foi feito aos milhares de milhões em material de guerra entregue? Basicamente foi destruído, designadamente as “armas maravilha” do ocidente que iam “fazer a diferença”. Por exemplo, muito poucos tanques Leopard ainda estão em serviço, destruídos ou avariados, o mesmo se aplicando aos Bradley dos EUA, aos franceses, etc.
Na desorientação dos estrategas e serviços de informações da NATO que comandam efetivamente o exército de Kiev, reforçado com mercenários, sabem que os objetivos proclamados estão perdidos, atacando alvos meramente civis, nas regiões russas fronteiriças, o que se tornará agora mais difícil depois da derrota de Kiev – e da NATO – em Avdeyevka, acompanhada de avanços das forças russas para oeste, ao longo da frente.
- Vêm aí os russos!
Face às crises existentes no seu espaço, a UE/NATO nada tem melhor para fazer senão arranjar um inimigo: os russos vão invadir-nos. Pelos evangelhos “a fé é que nos salva”, para o bloco é a propaganda, e quanto mais idiota e falsa mais gente acredita nela – como disse o Goebbels. Assim as despesas militares têm de ser superiores aos 2% do PIB, para além da ajuda militar a Kiev. Note-se que grande parte deste dinheiro vai para o complexo militar-industrial dos EUA, como a múmia Stoltenberg, tratou de lembrar nos EUA, isto é, enviar dinheiro a Zelensky é um bom negócio para Washington… E para a UE será?
Compreende-se portanto que seja necessário aumentar as verbas dada a "perspetiva de guerra com a Rússia". Uma perspetiva que as irresponsáveis declarações de Blinken ou de Stoltenberg tornam real, ao dizerem que “a Ucrânia está mais próxima da NATO do que nunca. Continuaremos a apoiá-la no caminho para a adesão”.
***cadro
A social-democracia alemã, sente-se estranhamente atraída pelos erros dos anos 1920-30. O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse que a “Europa” deve preparar-se para a guerra contra a Rússia com armas nucleares" num “período de cinco a oito anos”. Os alemães deveriam “reaprender a conviver com o perigo e preparar-se militar e socialmente e em termos de proteção civil”. Rob Bauer, presidente do comité militar da NATO, prometeu construir uma “economia de guerra” para preparar um “confronto direto com a Rússia”, “precisamos de uma transformação da NATO para o combate”, instando os Estados membros a dedicarem mais gastos com armas. Ao que parece a opinião dos povos sobre o assunto não conta, tudo isto, enquanto as sanções destinadas provocar o colapso da economia russa, devastaram as economias da UE/NATO.
Fala-se também de um plano britânico para um corpo expedicionário da NATO na Ucrânia, criação de uma zona de exclusão aérea e "minar" as capacidades ofensivas da Rússia. Seriam transferidas para a Ucrânia forças da NATO da Roménia e da Polónia para ocuparem linhas defensivas na margem direita do Dnieper, podendo ainda incluir um ataque das forças armadas da Moldávia e da Roménia contra a Transnístria. (Geopolítica ao vivo,Telegram, 02/02)
A orientação e pressão sobre os Estados é para massivamente se rearmarem contra a Rússia. Isto apesar da desindustrialização, endividamento, contestação social, além de terem atingido o limite de produção de munições para a guerra na Ucrânia. O exercício Steadfast Defender é o maior efetuado pela NATO desde o fim da Guerra Fria, com cerca de 90 mil soldados preparando um ataque à Rússia. Claro que seriam necessários dez (ou talvez 20) vezes mais. Mas há outro problema que não parece ter passado pela cabeça de nenhum “estratega”: que combustível iria utilizar este exército? E quanto custaria tudo isto?
Mas em que é que se baseiam para falar de uma agressão russa ao resto da Europa? Quais são as declarações ou ações de dirigentes russos que o justificam? Invadiram a Ucrânia? História mal contada, a Rússia foi proteger as populações russófonas do Donbass, que se separaram de Kiev por não aceitarem o golpe nazifascista de 2014, sendo por isso durante oito anos sujeitas a agressão militar e repressão, contando-se 14 000 mortos entre os quais muitas crianças, o incêndio provocado pelos neonazis na Casa dos Sindicatos de Odessa, etc.
A vulnerabilidade dos equipamentos da NATO, nomeadamente na defesa aérea, tem sido claramente exposta na guerra na Ucrânia. Onde estão os recursos financeiros e de matérias-primas para criar e manter um exército de dimensão adequada a proteger-se da “agressão russa”? Não se fala disto, apesar do bloco dificilmente conseguir suportar o peso do apoio a Kiev, com os países em estagnação e inflação, a Alemanha e o RU em recessão. Apesar da Rússia ter repetidamente afirmado não pretender um conflito com a NATO e estar pronta para negociar sobre a Ucrânia, o que está a ser colocado perante os povos é a inconsciência de um conflito entre potências nucleares. Seria isto que os EUA e RU pretendiam ao sabotar o acordo de paz entre representantes de Moscovo e de Kiev em abril de 2022?
Pela frente o bloco, a reboque dos EUA, escolheu ter conflitos para os quais tem solução. Têm o de Israel, um protegido do ocidente, o da Ucrânia poço sem fundo de dinheiro e material, o confronto com a Rússia, mas não só, há ainda o inimigo principal: a China e as exigências de Washington de intensificarem sanções, expandirem a presença militar na região, reduzir relações comerciais.
Como bom pau mandado Stoltenberg prometeu que a aliança ajudaria os EUA a enfrentar o “desafio da China”. Terá consultado alguém sobre isto? Será que avaliaram a eventual resposta da China e do que representaria para os países europeus do bloco? Pequim prometeu uma “resposta resoluta” a qualquer expansão da NATO na Ásia. (Geopolítica ao vivo, Telegram, 02/02)
Também não parecem contar que Irão, Rússia e China são países cada vez mais interdependentes, com interesses comuns em relação ao ocidente, que vão realizar exercícios militares navais conjuntos. A Rússia, além da China, também desenvolveu uma parceria estratégica com a vizinha RPDC, cujo desenvolvimento técnico-cientifico militar – e não só – tem sido impressionante.
Não deixa de ser espantoso é como a Rússia, país que já estava derrotado, com falta de munições, soldados a fugirem, uma dúzia de generais mortos, a economia sufocada com sanções, de repente não só derrotou a ofensiva ucraniana – da NATO – como os mesmos “comentadores” falam diariamente na ameaça da Rússia sobre o resto da Europa. Claro que a criação de inimigos é uma forma bastante prática de manter a submissão – chamam-lhe “unidade”.
A derrota da NATO na Ucrânia acelerou as mudanças que se desenhavam nas relações económicas, políticas e militares globais. A ordem económica liderada pelos EUA descobre-se incapaz de fazer face aos desafios que desencadeia, mostra-se ineficiente, funcionando apenas num sentido: a intensificação da exploração dos povos a favor do império.
Quando a Rússia toma como linha da sua política externa mostrar que “o imperador vai nu”, torna-se inimigo da ordem imperial, como Putin na sua alocução aos participantes do fórum internacional "Pela Liberdade das Nações", em Moscovo: "O neocolonialismo é um legado vergonhoso da era secular de pilhagem e exploração dos povos de África, da Ásia e da América Latina, e de outras regiões do planeta. Vemos hoje as suas manifestações agressivas nas tentativas do Ocidente coletivo manter o seu domínio e supremacia por qualquer meio, para subjugar economicamente outros países, privá-los da sua soberania, impor valores e tradições culturais estrangeiras". (Geopolítica ao vivo, Telegram, 17/02)
Com os BRICS e outras organizações associadas à Rússia e/ou à China a multipolaridade foi instituída. Mais de 30 países manifestam interesse numa cooperação estreita com os BRICS, que já ultrapassaram o G7 na participação no PIB mundial (35% contra 31%). O bloco UE/NATO escolheu os neocons como seus mestres. Trump – não menos imperialista do qualquer outro candidato – teria sido uma oportunidade para o bloco realizar uma política externa de acordo com os seus interesses, mas não: a sua escolha foi enfeudar-se aos neocons. É este o significado atual de “atlantismo”.
O projeto neocon foi claramente exposto em “Guerra por procuração dos NeoCons contra a Ucrânia". Embora aparentemente os neocons exibam uma posição de força e vontade de domínio não passa de pensamento oco, como tantos outros “estudos” dos chamados “think tanks”, revelando as fragilidades do império para tão ambiciosos programas enquanto a dívida cresce, a desdolarização está em curso e as contradições internas se acentuam.
As fragilidades militares da NATO tornaram-se evidentes na Ucrânia. Nos EUA vão desde o arrastar de falhas nos mísseis hipersónicos mesmo para velocidades muito inferiores às dos russos; nas falhas dos F-35, desde 2006, custando 160 milhões de dólares ou mais cada. O seu “super tanque” Abrams, tem uma complexidade e consumo (1000 litros aos 100 km em campo) que tornam a sua utilização dificilmente operacional caso não se domine totalmente o campo de batalha e linhas logísticas.
Ao insistir num intenso plano nuclear, os EUA colocam-se numa posição equivalente à de países com menores capacidades, terem como derradeiro recurso a dissuasão nuclear, sempre limitada. E se isto pode ser justificado em casos concretos, quanto aos EUA é um perigoso sintoma de insanidade sobretudo quando não está definido claramente o seu plano de utilização dessas armas – ao contrário da Rússia.
Incapaz de encarar a realidade, o bloco UE/NATO, não parece ter quaisquer ideias quanto ao futuro além de se agarrar a dogmas que comprovadamente falharam. Prosseguir a lavagem cerebral, o neoliberalismo e as guerras? É o que se tem visto até agora. Que têm os líderes da UE/NATO a dizer quanto às perspetivas militares com que são confrontados? Nada, obedecem aparentemente satisfeitos e humildemente, enquanto os partidos do sistema usam todos os meios para afastar a opinião pública destas questões cruciais.
[Artigo tirado do sitio web portugués Resistir.info, do 29 de febreiro de 2024]