A Europa e o ataque contra a Síria
A mais recente agressão dos EUA e da NATO contra a Síria – o bombardeamento da base de Cherat – não é apenas a primeira grande confirmação da irresponsabilidade de Trump, tão criminosa como a de Obama. É a confirmação de que a mudança de uma peça em nada altera o funcionamento da engrenagem que vai tornando cada vez mais real a ameaça de um conflito militar a uma escala sem precedentes
Depois do ataque com misseis que os EUA perpetraram contra a Síria o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Angelino Alfano, declarou que a Itália está preocupada com a «segurança e a estabilidade da região mediterrânica». Os factos mostram de que maneira a Itália contribui para as preservar.
- O USS Porter e o USS Ross, os dois navios de guerra estado-unidenses que atacaram a base aérea síria de Chayrat, pertencem à Sexta Frota, que tem a sua base principal em Gaeta (Itália).
- A Sexta Frota estado-unidense depende do Comando das Forças Navais dos EUA na Europa, cujo quartel-general está em Nápoles - Capodichino (Itália).
- Esse comando, que dirigiu a partir de Nápoles o ataque ordenado pelo presidente Trump, está sob as ordens da almirante Michelle Howard, que tem também debaixo do seu comando a Força Conjunta da NATO, cujo quartel-general está em Lago Patria (Nápoles, Itália).
- A operação estado-unidense de guerra contra a Síria contou com apoio das bases estado-unidenses da Sicília (Itália). Essas bases são a base aeronaval de Sigonella e a estação do sistema de transmissões navais MUOS que se situa em Niscemi.
- A essas duas bases junta-se o concurso da base de Augusta, também na Sicília (Itália), instalação onde os navios da Sexta Frota estado-unidense e os da NATO se abastecem de combustível e munições, incluindo os misseis cruzeiro Tomahawk utilizados contra a Síria.
O USS Porter e o USS Ross dispõem de lançadeiras verticais Aegis, dotadas de misseis interceptores como os já instalados na base terrestre de Deveselu, na Roménia, e que serão também instalados em outra base, actualmente em construção, na Polonia. Esses dois navios são parte do chamado «escudo antimísseis» que os EUA estão a instalar na Europa, orientado evidentemente contra a Rússia. Mas, segundo a documentação do seu construtor Lockheed Martin, as lançadeiras Aegis são capazes de disparar «misseis para todo o tipo de missões, como os misseis de cruzeiro Tomahawk».
Não há que esquecer que os «Tomahawk» também podem transportar ogivas nucleares e que, por ordem do Comando de Nápoles, os 4 navios lança-mísseis Aegis (estado-unidenses) instalados na base espanhola de Rota, no Atlântico, realizam rotações no Mar Negro e no Báltico, em águas muito próximas da Rússia. Antes do ataque contra a Síria, o USS Porter tinha inclusivamente participado num exercício no Mar Negro.
Por seu lado, o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros qualificou o ataque estado-unidense contra a Síria de «acção militar proporcionada tanto nos seus prazos como no seu modo de acção, como dissuasão a ulteriores utilizações de armas químicas por parte de Assad». E convocou para Lucca, em paralelo ao G7 “de Exteriores”, «uma reunião especial para reactivar o processo político sobre a Síria, [reunião] ampliada aos ministros dos Estrangeiros da Arabia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Qatar, Turquia e Jordânia». Ou seja, precisamente os mesmos países que, como parte da rede internacional organizada pela CIA, têm contribuído com milhares de milhões de dólares, armamento, bases de treino e vias de trânsito aos grupos terroristas - incluindo o Emirato Islâmico (Daesh) - que desde há anos operam na Síria contra a República.
É precisamente numa altura em que esta operação está a fracassar, em que a Itália participa através dos «Amigos da Síria», e em que estava a ponto de se iniciar uma negociação para pôr fim à guerra, que se acusa o governo sírio de ter perpetrado um massacre de civis, incluindo numerosas crianças, mediante um ataque químico deliberado, e inclusivamente se afirma que a Rússia apoia esse acto.
Uma extensa documentação - que o professor Michel Chossudovsky disponibiliza no sitio web Global Research [1] – em que além do mais comprova, por incrível que pareça, que Noam Chomsky está a favor da “mudança de regime” na Síria [2] - demonstra, pelo contrario, que é o Pentágono, a partir de 2012 e através de vários intermediários, quem fornece armas químicas e o treino requerido para as utilizar a diversos grupos terroristas que operam na Síria. E esses grupos utilizaram esse armamento, como a comissão investigadora da ONU encabeçada por Carla Del Ponte demonstrou em 2013.
Mas a Itália prefere ignorar essas provas quando, para «reactivar o processo político sobre a Síria», convoca precisamente os países mais implicados na tentativa de destruir o Estado sírio.
É isso o que está a suceder enquanto a almirante estado-unidense Michelle Howard, depois de ter dirigido o ataque contra a Síria a partir do quartel general de Nápoles - ponte de comando do porta-aviões “Itália”-, define essa agressão como «exemplo da nossa força e capacidade de projectar poderio no mundo inteiro».
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Notas
[1] “When America’s “Progressives” Pay Lip Service to Imperialism. The Anti-War Movement is Dead. Trump’s Punitive Airstrikes against Syria. Noam Chomsky Favors “Regime Change”", Michel Chossudovsky, Global Research, 9 de Abril de 2017.
[2] Ler as lamentáveis declarações de Chomsky em castelhano: https://www.democracynow.org/es/2017/4/5/the_assad_regime_is_a_moral
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[Artigo tirado do sitio web ODiario.info, do 22 de abril de 2017]