O mundo inclina-se de novo para a guerra

Thierry Meyssan - 18 Abr 2017

A Casa Branca alinhou-se finalmente com a Coligação constituída pelos neo-conservadores (neo-cons) junto com o Reino Unido e diversas empresas multinacionais. Os Estados Unidos retomam a política imperialista que tinham assumido em 1991 e reativam a Otan. A ruptura com a Rússia e a China ficou consumada em 12 de Abril de 2017. O mundo está de novo à beira da guerra nuclear

 No decorrer de duas semanas de intensa batalha no seio da Administração Trump, os Estados Unidos atacaram a base aérea de Shairat (Síria) ilegalmente, multiplicaram depois os sinais contraditórios antes de mostrar o seu jogo : definitivamente, relançam a sua política imperialista.

 Em menos de duas semanas, a Administração Trump defendeu 7 posições diferentes em relação à República Árabe Síria [1]. Em 12 de abril de 2017, os Estados Unidos assumiram a sua grande reviravolta.

 No preciso momento em que o Secretário de Estado Rex Tillerson se dirigia a Moscou para tentar uma última abordagem pacífica; o Conselho de Segurança da ONU reunia-se e registrava o choque; o presidente Trump relançava a Otan contra a Rússia.

 O conselheiro especial do presidente Trump, Steve Bannon e o seu adjunto, Sebastian Gorka, preparavam-se para se juntar ao General Michael Flynn, enquanto a imprensa outrora pró-Trump já fazia o balanço da sua atuação. Rumores garantem que o genro do Presidente, Jared Kushner, é quem agora detêm a atenção privilegiada do presidente, embora esta informação não seja confirmada.

 Parece que a Casa Branca terá virado sob o impulso dos britânicos que procuram preservar, por todos os meios, o sistema jihadista que criaram [2]. O Ministro das Relações Exteriores Boris Johnson apoiou-se nos dirigentes europeus que se tinham já deixado convencer pelos neo-conservadores durante a Conferência sobre Segurança, em Munique, em 19 de fevereiro [3].

 Para justificar a agressão de um Estado soberano membro das Nações Unidas, Rex Tillerson apenas se pode referir a um resumo de síntese dos serviços de "Inteligência" US sobre o incidente de Khan Shaikhun ; síntese que não apresenta nenhum indício permitindo atribuir as suspeitas à Síria, antes atirando para informações classificadas, e concluindo com um apelo para o derrube do "regime" [4].

 O caráter irreversível desta reviravolta mede-se pela leitura da proposta de Resolução apresentada pela Otan no Conselho de Segurança da ONU, à qual a Rússia opôs o seu veto [5]. Apresentado no Ocidente como um simples pedido de investigação neutro sobre o incidente químico em Khan Shaikhun, tratava-se na realidade da colocação da Força Aérea síria sob o controle do número 2 da ONU, Jeffrey Feltman . Este antigo adjunto de Hillary Clinton, é o autor de um plano de capitulação total e incondicional da Síria [6].

 O texto desta Resolução retoma o do rascunho entregue a 6 de Abril, mas que os Estados Unidos não tinham submetido à votação na altura, já que estavam então muito pouco seguros de si próprios. Ele não leva em conta a tentativa de mediação dos membros não-permanentes (eleitos) do Conselho de Segurança, que tentaram regressar ao pedido de uma normal de investigação da ONU [7].

 O princípio da colocação da Força Aérea síria sob o controle da ONU retoma a tática que fora usada, contra a Sérvia, há 19 anos, em 1998, até ao momento da intervenção militar ilegal da Otan.

 O presidente Donald Trump concluiu a sua reviravolta recebendo na Casa Branca o Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Durante uma conferência de imprensa conjunta, ele indicou não considerar mais a Aliança como obsoleta, agradecer-lhe pelo seu apoio contra a Síria, e aprestar-se para trabalhar estreitamente com os seus aliados [8].

 Em resposta, a Rússia anunciou ter atualizado 60% da sua força nuclear e estar preparada para a guerra [9].

 Voltamos, assim, seis meses atrás, quando os Estados Unidos de Barack Obama recusavam trabalhar com a China, a Rússia e os seus aliados (Organização de Cooperação de Xangai e Organização do Tratado de Segurança Coletiva). Eles propunham-se então cortar o mundo em duas partes distintas não mais comunicando, o que quer que fosse, um com o outro [10].

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[1] “As 6 posições da Administração Trump sobre a Síria”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 12 de Abril de 2017.

[2] Sous nos Yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump (Sob os nossos olhos. Do 11-de-Setembro a Donald Trump), Thierry Meyssan, éditions Demi-Lune, 2017. Voir la seconde partie de l’ouvrage.

[3] “O sequestro da Conferência sobre Segurança de Munique”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 21 de Fevereiro de 2017.

[4] “The Assad regime’s used of chemical weapons, on April 4, 2017”, White House.

[5] “US, UK & France Resolution on Syria (Russian vetoed)”, Voltaire Network, April 12, 2017.

[6] Sous nos Yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump (Sob os nossos olhos. Do 11-de-Setembro a Donald Trump), Thierry Meyssan, éditions Demi-Lune, 2017. Pages 238-244 et 249-251.

[7] “Security Council Elected Members’ Initiative: Compromise Draft Resolution on Chemical Attack in Idlib, Syria (withdrawn)”, Voltaire Network, 6 April 2017.

[8] “Donald Trump relança a Otan”, Rede Voltaire, 14 de Abril de 2017.

[9] " La Russie se tient prête à une guerre nucléaire ", Réseau Voltaire, 13 avril 2017.

[10] “Dois mundos distintos”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan (Síria) , Rede Voltaire, 8 de Novembro de 2016.

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[Artigo tirado do sitio web Vermelho, do 14 de abril de 2017]